A tecnologia otimiza processos e a comunicação, mas a construção de uma mensagem poderosa continua sendo tarefa para seres humanos
“2023 foi sobre o uso da inteligência artificial. 2024 é sobre como usá-la melhor”. Assim a fundadora e CEO da plataforma Mosaik, Sheila Reddy, sintetizou qual será o tom das discussões sobre tecnologia e mercado imobiliário ao longo deste ano. A frase foi dita durante o Inman Connect 2024, evento realizado em Nova York no último mês, reunindo profissionais do mercado imobiliário de todo o mundo.
De fato, a dúvida sobre implementar ou não ferramentas de IA no contexto do mercado imobiliário já foi sanada, e a resposta é um inequívoco “sim”. Empresas de todos os tamanhos e profissionais de diferentes áreas já se aproveitam dos ganhos em velocidade, produtividade e assertividade abertos por essas novas tecnologias.
Não por acaso, um levantamento da consultoria Bain & Company chegou a indicar que 30% das empresas têm pelo menos uma estratégia de implementação de IA em curso. Prova disso é que já estamos acompanhando uma forte tendência nas empresas de tecnologia de redução de custos e aumento de receita, a partir do uso da inteligência artificial em processos repetitivos.
Se a validade da IA no setor imobiliário é ponto pacífico, a questão agora é encontrar maneiras criativas e mais eficientes de utilizar essa tecnologia. Dito de outra forma, é preciso fugir do óbvio.
Uma inteligência artificial consegue não só reunir e analisar um volume imenso de dados instantaneamente dando respostas com agilidade e precisão, mas também produzir imagens e vídeos que permitem simular a realidade e proporcionam experiências imersivas a um baixo custo. Tudo isso tem potencial para contribuir com a automação de atendimento e vendas, escalando o negócio.
Um dos pontos de partida para tirar proveito de tudo que as IAs generativas têm a oferecer, no entanto, é seu uso na comunicação, que foi largamente discutido no Inman Connect. Por meio de uma análise do portfólio de determinada empresa e do perfil de seus clientes, elas conseguem identificar e elaborar conteúdos com grande possibilidade de atrair a atenção de potenciais clientes que podem ser usados tanto em portais, redes sociais ou newsletters. A tecnologia pode ajudar, portanto, a customizar a comunicação da empresa ou do corretor.
A era do spam acabou. O consumidor busca hoje um relacionamento mais individualizado com as marcas, o que, no ramo imobiliário, se traduz em ofertas e conteúdos em menor quantidade, porém mais ajustados a cada perfil.
E justamente nesse ponto que entra o diferencial humano. Se a tecnologia digital tem condições de ajudar até na comunicação das marcas, ela não substitui – e provavelmente nunca substituirá – o DNA de uma organização. Antes de implementar qualquer solução de IA em seus processos internos ou em sua relação com os clientes, as empresas precisam ter clareza de quais são seus valores, seus conceitos e sua cultura.
Rich Antoniello, da Complex Networks, sintetizou bem essa ideia: “automatize a monotonia, não a mensagem”. A inteligência artificial deve funcionar como uma ferramenta de apoio aos processos, jamais como criadora de mensagens. Ela otimiza conteúdos, mas não pode, sozinha, inventar um diferencial para uma empresa.
Sem essa clareza, corre-se o risco de um uso genérico da IA, algo que, segundo os especialistas, tem aprisionado muitos profissionais. A informação pasteurizada e sem originalidade não tem espaço numa economia baseada cada vez mais na personalização de produtos e serviços. Sem dúvida, cabe à empresa ou corretor conhecer seu cliente melhor que o Chat GPT.
“Originalidade” é a palavra-chave do último Inman Connect. Agora que a inteligência artificial não é mais novidade para o mercado imobiliário, o foco está em achar maneiras novas e originais de aplicação dessa tecnologia, objetivo que só pode ser alcançado quando a empresa ou profissional tem clareza do que pode oferecer a seus clientes. Um lembrete de que, na vida e nos negócios, a sensibilidade humana ainda não pode ser substituída.